A MATANÇA DOS INOCENTES
morre uma criança
a cada três segundos
não choram anjos,
não se ouvem trombetas
em toques de alarme
um minuto para chorar
sem humanidade
sem solidariedade
vinte deixam de respirar
mil e duzentas
numa hora
e ninguém anunciou
a boa nova
da ressurreição
o mundo continuou
a girar
indiferente
no seu movimento
de rotação
vinte e oito mil e
oitocentos
cordeiros inocentes
foram imolados
e o Deus de Abraão
não levantou a mão
para impedir o sacrifício
e temos que louvar
o livre arbítrio
Herodes voltou
de petróleo encharcado
searas devorou
fontes secou
com seu hálito de fogo
fez chover balas
armas químicas
bombas, mísseis
trezentas e sessenta
e cinco vezes
em guerras se multiplicou
um átomo, um nada
no movimento da Terra
no espaço sideral
mas arrancou
dos seios vazios
de mães sem esperança
dez milhões e meio
de crianças
Natal, tempo
para “ser bom”
cantar o amor, a alegria
a paz
entre os homens de boa vontade
se a cabeça enterrasse
no vil pó do barro
de que sou feita
fosse cega, surda e muda
não veria, ouviria
os milhares de gritos de pavor
que saem de todos os cantos da terra
dos cordeiros imolados
rio, mar de dor
alastrando em todos os continentes
enquanto uma criança sofrer
de desamor sem igual
e de fome morrer
não me falem em NATAL!
maria ivone vairinho